Um clássico sem GoGó
Domingo é um dia ensolarado, cheio de clarões. Um dia bom para sair, lavar o carro, dar aquele trato e relembrar que começa o futebol. Mais um ano, tantas histórias, subirei ao serra para ver o um clássico. Tantas paixões que foram tecidas ali, quem não se lembra do seu Goiás e seu papagaio em charme, de tantos craques que desfilaram sua maestria como Turco, Mateba pelo galinho carijó, Fernandão e Túlio pelo periquito, há que saudades, teremos um clássico.
Peguei o carro e fui colocando no rádio AM, acompanhando cada detalhe, cada furor de paixão que me rompia, arrepiado em pensar num Serra Dourada cheio, mesmo num dia nublado. Pensei nos gritos das torcidas, rivalidade, mastros e bandeiras em agitação, os novos rostos e craques. Sei que não é mais o mesmo futebol, o romantismo, as roupas, a técnica não é a mesma.
O gramado que já foi tão grande que parecia abraçar toda a imensidão do talento, a geral que pulsava e dividia pequenos e gigantes, ali existia um futebol, um prazer inenarrável em desfrutar. Não era como o coliseu romano, nem tampouco o teatro de tragédia grega, era a entrega e o abraço, a cobrança em seguida do afago o nó na garganta até o grito de desespero. Foguetes, fogos, arquibancada, bateria.
Seu Goiás estaria orgulhoso agora, seu periquito desfilaria canções puxando a massa alviverde em meio aos cantos. O papagaio regente se juntaria a torcida uniformizada, ambulantes e vários apaixonados entoados em uníssono pelo time esmeraldino.
A massa goiana mesmo que em menor quantidade, gritaria como um espartano e não se renderia por 90 minutos puxando o carijó pelos relvados que encobrem os caminhos para o gol. Uma chapa branca que ferve e pulsa frente.
Chego ao jogo, onde estão os torcedores? Escondidos? Melindrosos com a chuva?
Escuto então seu Zé todo cabisbaixo e cuspindo abelhas
Chego ao jogo, onde estão os torcedores? Escondidos? Melindrosos com a chuva?
Escuto então seu Zé todo cabisbaixo e cuspindo abelhas
- O salário não caiu do povo, o povo tá com medo.
Tantos medos nos rondam, violência, desigualdade, fome, mas o medo de não ter o dinheiro parece ser maior. Poucas pessoas ali para testemunhar o primeiro gol de Michel.
Que abraço ganhou da torcida? E a pintura de Marlone que parecia estar tecendo a mais bela obra de um Salvador Dalí em seus momentos que beiravam o delírio da loucura da genial. Com certeza teria o afago da torcida, mas que torcida? E quando sepultou as esperanças brancas ao fim do jogo nem xingado, nem aplaudido, nem sido rei por um minuto como vários tantos o foram...
Tantos medos nos rondam, violência, desigualdade, fome, mas o medo de não ter o dinheiro parece ser maior. Poucas pessoas ali para testemunhar o primeiro gol de Michel.
Que abraço ganhou da torcida? E a pintura de Marlone que parecia estar tecendo a mais bela obra de um Salvador Dalí em seus momentos que beiravam o delírio da loucura da genial. Com certeza teria o afago da torcida, mas que torcida? E quando sepultou as esperanças brancas ao fim do jogo nem xingado, nem aplaudido, nem sido rei por um minuto como vários tantos o foram...
No clássico GoGó o que menos teve foi o grito de gol, mas outros gritos pareciam estar na garganta de milhares que por um sem acaso destinado principiaram da televisão uma vitória com sabor amargo de 13º salário.
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