José Paulo Paes - Epitáfio Para Um Banqueiro
Ego
Ócio
Cio
O
No presente artigo, haverá uma análise de um poema chamado
"Epitáfio Para Um Banqueiro" de José Paulo Paes, que pretende
compreender e desnudar a mensagem. Não se trata, portanto, do interesse
literário, humor do poeta trata-se de buscar compreensões que vão além do poema
e retratam o contexto e o que vem a ocorrer com a geração literária e a
sociedade brasileira no período. Para isso, será utilizado Eagleton e Viana
para o entendimento de formação do processo histórico da literatura e a
constituição do poder no capitalismo na década de 60 tanto nacional como
internacional.
Palavras-chave: José Paulo Paes, Literatura, Poema.
José Paulo Paes foi um poeta de grande destaque na metade final do
século XX. Em inspiração tinha o interesse por brincar com a linguagem e
apresentar um humor peculiar e até mesmo sórdido. Fica bem claro ao vermos o
poema citado que o autor faz um uso de brincadeiras com a palavra negócio e um
epitáfio que estaria escrito a um empresário. Mesmo parecendo um poema
concretista pelo uso da forma, o poeta vai além e apresenta um tom crítico e
social que o distingue dos seus pares naquele instante. As perguntas fluem com
a leitura afinal, seria o poema vago demais para uma análise? Não parece claro
o que ele pretende dizer?
Para essas perguntas a utilização do teórico Terry Eagleton parece a
mais acertada. Em Marxismo e Crítica Literária o filósofo descreve o que deve
ser feito em busca pela análise marxista que é retirar a nudez do texto,
descobrir e perceber a essência do que afinal se trata e qual a mensagem que se
tem por de trás. Em suma, o texto não precisa de floreios ou abstrações é
preciso lançar mão do conteúdo extraliterário e buscar nas relações sociais e
nas formas de manifestação presentes em sua época a intenção da mensagem ali
dita.
Logo, o presente poema não parece demasiado vago para uma análise e tem
muitas intenções na sua mensagem. Para isso precisamos entender o processo que
ocorria no país e no mundo. O crítico Nildo Viana faz uma análise bastante
contundente. Em O Capitalismo na Era da Acumulação Integral o sociólogo
apresenta o processo ocorrente na década de 60. Com o estado de bem-estar
social os países mais ricos apresentavam ganhos exorbitantes de capital e os
trabalhadores destes países tinham um padrão de vida bem assegurado. Bens de
consumo e serviços públicos os trabalhadores gozavam de ganhos bem assegurados
nos países mais avançados do capital.
Contudo a outra face da moeda era a exploração dos trabalhadores nos países
mais pobres e assim, realizando naquele momento um regime de acumulação
intensivo e retirarem a riqueza da produção dos trabalhadores de países mais
pobres e transferirem para os trabalhadores dos países mais ricos. A
dificuldade encontrada foi a manutenção deste modelo por um longo período, pois
não havia mais capacidade do capital em se expandir que não fosse por guerras (como
em regiões da África e da Ásia) ou uma corrida armamentista como recorrente
pelo período da guerra fria.
Com essa dificuldade vemos que a saída para o país que comandava esta expansão
é o uso de regimes ditatoriais para garantir o uso do regime de acumulação
intensivo. Isto é o caso do Brasil na década de 60 que teve uma ditadura
militar que provocou repressão, tortura e mais situações de perdas e destruição
para os trabalhadores.
Nisso o texto fica bem claro e compreendido, pois o empresário realiza um
negócio que necessita retirar cada vez do trabalhador.
O "ego" é que alimenta o desejo de que todos o sejam, mas por serem
dono das forças dos meios de produção pode realizar na força de trabalho uma
carga que satisfaça sua cobiça. Aqui então se realiza a cobiça dupla, de um lado
o empresário para uma maior exploração e expansão de seu domínio por ser
possuidor dos meios de produção e do outro a subordinação pelos trabalhadores
que ao serem despossuídos de tais meios anseiam chegar a possuir o ego do
capitalista, logo, uma ideia de ascender socialmente.
O "ócio" é algo que se difere do lazer na sociedade
capitalista. é de alguém que não necessita trabalhar e, somente, retirar
de forma mais intensa por meio do trabalho a riqueza produzida pelo
trabalhador.
O "cio" que se remete a questão sexual da fêmea em muitas espécies
seria, sem muitos floreios, a fertilização com que usa da força de trabalho
quando esta gera mais lucro e produz mais para seu prazer. O prazer aqui não se
remete ao ato sexual, mas o prazer de gozo por não realizar o trabalho e
explorar os trabalhadores sem o menor pudor desde que gere mais riqueza pela
sua intensidade (não pela extensividade já que o período é curto).
Portanto a análise se pautou em trazer uma busca pela compreensão e
entendimento do poeta José Paulo Paes. Seu poema e sua crítica social analisada
por uma lupa maior dá a contextualização e o processo que a classe trabalhadora
sofreu na ditadura militar e que perdas significativas teve neste período a
fragilizando e assim, alimentando o alvitre e a ganância da burguesia no país.
Com humor ácido bem conhecido a análise deixa para o fim a última inscrição do
epitáfio (em que o autor encerra com a letra "O").
O que significaria a utilização do "O" no final? Afinal, ele seria
uma referência ao zero numérico ou a letra O do alfabeto em tamanho maior? Para
a burguesia o zero seria seu fim, o fim de sua força como classe privilegiada e
estará entregue a outra burguesia com maior poder e se tornará força de
trabalho desta burguesia que controla os modos de produção. Não parece muito
sentido ser a letra O em tamanho maior, pois o temor não é pela letra e sim,
pelo número que não lhe traga o negócio, o ego, o ócio o cio e te leve ao fim
pela morte que lhe zera todas estas relações conflituosas e exploradas.
Com efeito, caberia a nós aceitarmos que só o fim pelo epitáfio levaria à destruição da burguesia ou zerando os seus prazeres levaria a um epitáfio em
vida e uma dignidade para todos os trabalhadores?
Adorei a análize. Muito inteligente. Porém creio que a análise puramente marxista acaba superficializando um pouco a mensagem completa do poema. Poe exemplo, creio que "ego" refere-se não apenas à setisfação de pertencer à classe social dominante mas também a sensação de estar de acordo com os parâmetros distorcidos e materialistas de sucesso financeiro. Além disso o "O" não necessariamente está ligado ao fim da classe burguesa, e sim à morte em sí, mostrando que o empresário construiu uma vida que não significa absolutamente nada após sua morte, e que ele não deixa nenhum legado para a humanidade.
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