José Paulo Paes - Epitáfio Para Um Banqueiro

Epitáfio Para Um Banqueiro
Negócio 
Ego 
Ócio 
Cio 
O
PAES, José Paulo. Epitáfio para Um Banqueiro in: Anatomias. 1967. São Paulo.


No presente artigo, haverá uma análise de um poema chamado "Epitáfio Para Um Banqueiro" de José Paulo Paes, que pretende compreender e desnudar a mensagem. Não se trata, portanto, do interesse literário, humor do poeta trata-se de buscar compreensões que vão além do poema e retratam o contexto e o que vem a ocorrer com a geração literária e a sociedade brasileira no período. Para isso, será utilizado Eagleton e Viana para o entendimento de formação do processo histórico da literatura e a constituição do poder no capitalismo na década de 60 tanto nacional como internacional.

 

 

Palavras-chave: José Paulo Paes, Literatura, Poema. 

 

 

José Paulo Paes foi um poeta de grande destaque na metade final do século XX. Em inspiração tinha o interesse por brincar com a linguagem e apresentar um humor peculiar e até mesmo sórdido. Fica bem claro ao vermos o poema citado que o autor faz um uso de brincadeiras com a palavra negócio e um epitáfio que estaria escrito a um empresário. Mesmo parecendo um poema concretista pelo uso da forma, o poeta vai além e apresenta um tom crítico e social que o distingue dos seus pares naquele instante. As perguntas fluem com a leitura afinal, seria o poema vago demais para uma análise? Não parece claro o que ele pretende dizer? 

 

Para essas perguntas a utilização do teórico Terry Eagleton parece a mais acertada. Em Marxismo e Crítica Literária o filósofo descreve o que deve ser feito em busca pela análise marxista que é retirar a nudez do texto, descobrir e perceber a essência do que afinal se trata e qual a mensagem que se tem por de trás. Em suma, o texto não precisa de floreios ou abstrações é preciso lançar mão do conteúdo extraliterário e buscar nas relações sociais e nas formas de manifestação presentes em sua época a intenção da mensagem ali dita. 

 

Logo, o presente poema não parece demasiado vago para uma análise e tem muitas intenções na sua mensagem. Para isso precisamos entender o processo que ocorria no país e no mundo. O crítico Nildo Viana faz uma análise bastante contundente. Em O Capitalismo na Era da Acumulação Integral o sociólogo apresenta o processo ocorrente na década de 60. Com o estado de bem-estar social os países mais ricos apresentavam ganhos exorbitantes de capital e os trabalhadores destes países tinham um padrão de vida bem assegurado. Bens de consumo e serviços públicos os trabalhadores gozavam de ganhos bem assegurados nos países mais avançados do capital.

Contudo a outra face da moeda era a exploração dos trabalhadores nos países mais pobres e assim, realizando naquele momento um regime de acumulação intensivo e retirarem a riqueza da produção dos trabalhadores de países mais pobres e transferirem para os trabalhadores dos países mais ricos. A dificuldade encontrada foi a manutenção deste modelo por um longo período, pois não havia mais capacidade do capital em se expandir que não fosse por guerras (como em regiões da África e da Ásia) ou uma corrida armamentista como recorrente pelo período da guerra fria.

Com essa dificuldade vemos que a saída para o país que comandava esta expansão é o uso de regimes ditatoriais para garantir o uso do regime de acumulação intensivo. Isto é o caso do Brasil na década de 60 que teve uma ditadura militar que provocou repressão, tortura e mais situações de perdas e destruição para os trabalhadores.

Nisso o texto fica bem claro e compreendido, pois o empresário realiza um negócio que necessita retirar cada vez do trabalhador. 

O "ego" é que alimenta o desejo de que todos o sejam, mas por serem dono das forças dos meios de produção pode realizar na força de trabalho uma carga que satisfaça sua cobiça. Aqui então se realiza a cobiça dupla, de um lado o empresário para uma maior exploração e expansão de seu domínio por ser possuidor dos meios de produção e do outro a subordinação pelos trabalhadores que ao serem despossuídos de tais meios anseiam chegar a possuir o ego do capitalista, logo, uma ideia de ascender socialmente.

O "ócio" é algo que se difere do lazer na sociedade capitalista.  é de alguém que não necessita trabalhar e, somente, retirar de forma mais intensa por meio do trabalho a riqueza produzida pelo trabalhador.

O "cio" que se remete a questão sexual da fêmea em muitas espécies seria, sem muitos floreios, a fertilização com que usa da força de trabalho quando esta gera mais lucro e produz mais para seu prazer. O prazer aqui não se remete ao ato sexual, mas o prazer de gozo por não realizar o trabalho e explorar os trabalhadores sem o menor pudor desde que gere mais riqueza pela sua intensidade (não pela extensividade já que o período é curto).

 

Portanto a análise se pautou em trazer uma busca pela compreensão e entendimento do poeta José Paulo Paes. Seu poema e sua crítica social analisada por uma lupa maior dá a contextualização e o processo que a classe trabalhadora sofreu na ditadura militar e que perdas significativas teve neste período a fragilizando e assim, alimentando o alvitre e a ganância da burguesia no país. Com humor ácido bem conhecido a análise deixa para o fim a última inscrição do epitáfio (em que o autor encerra com a letra "O").

O que significaria a utilização do "O" no final? Afinal, ele seria uma referência ao zero numérico ou a letra O do alfabeto em tamanho maior? Para a burguesia o zero seria seu fim, o fim de sua força como classe privilegiada e estará entregue a outra burguesia com maior poder e se tornará força de trabalho desta burguesia que controla os modos de produção. Não parece muito sentido ser a letra O em tamanho maior, pois o temor não é pela letra e sim, pelo número que não lhe traga o negócio, o ego, o ócio o cio e te leve ao fim pela morte que lhe zera todas estas relações conflituosas e exploradas. 

Com efeito, caberia a nós aceitarmos que só o fim pelo epitáfio levaria à destruição da burguesia ou zerando os seus prazeres levaria a um epitáfio em vida e uma dignidade para todos os trabalhadores?

 

















Comentários

  1. Adorei a análize. Muito inteligente. Porém creio que a análise puramente marxista acaba superficializando um pouco a mensagem completa do poema. Poe exemplo, creio que "ego" refere-se não apenas à setisfação de pertencer à classe social dominante mas também a sensação de estar de acordo com os parâmetros distorcidos e materialistas de sucesso financeiro. Além disso o "O" não necessariamente está ligado ao fim da classe burguesa, e sim à morte em sí, mostrando que o empresário construiu uma vida que não significa absolutamente nada após sua morte, e que ele não deixa nenhum legado para a humanidade.

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