Crítica ao Posfacial de Maria Lúcia Dal Farra: Herberto Helder e os Limites
DAL FARRA, Maria Lúcia. Posfacial in O Corpo O Luxo A Obra. 1ª ed. Iluminuras. 2000, Brasil.
DADOS SOBRE A OBRA
A resenha pretende retratar sobre o posfácio da poeta e professora Maria Lúcia Dal Farra que se encontra na obra O Corpo O Luxo A Obra de Herberto Helder. Tal posfácio procurar descrever de maneira sucinta a importância e a maneira como o autor português se tornou o poeta de maior destaque em Portugal no última metade do século 20. Escrito em 2000, tá posfácio ainda encanta e consegue de forma envolvente nos levar a compreender o jogo e a forma como Helder pretende fazer da sua poesia, a retirada da palavra do seu habitat comum.
RESENHA CRÍTICA DA OBRA
Herberto Helder tem uma maneira ímpar e de grande requinte ao analisar o mundo. Sua escrita nos leva a enfatizar e a um poder em nossa imaginação que fica difícil não se sensibilizar frente as suas problemáticas e inquietudes como a descrição em "Essa escrita se ostenta como a caligrafia extrema do mundo, como o talento de aplicar as mãos sobre a matéria prima da terra, de modo a não mostrar o que resta - mas o que falta." (p. 149).
Porém não é desejo do poeta atuar como modificador do mundo e criando seu ambiente de forma próxima e coerente. A brincadeira que propõe uma modificação de nossa percepção com a língua e testar o que conhecemos por realidade e o quanto ela pode possuir inúmeras significações como em "O fato é que Herberto Helder construiu para si, a partir de tal suspeita, uma maneira absolutamente rigorosa de dizer o arbitrário, um jeito de fazer cada palavra ser, com segurança, outra coisa que não ela mesma."(p. 150). Tal passagem ainda ganha reforços e concordância ao decorrer do posfacial como na passagem escrita em "Tudo fica, nessa velocidade, impregnado de alta tensão, e as fagulhas que as palavras exaltam saltam simultâneas, com tanta intensidade, que a linguagem se deixa arder no ato de leitura(...)". (p.151)
Nessa descrição somos apresentados a uma característica da obra helderiana que é o tratamento da linguagem de forma similar à estética cinematográfica ou até fotográfica com seus recortes, cortes, edições que se assemelham mais a montagem de um filme do que, propriamente dito, um poema até aquele instante. Para trabalhar com esse recorte tão frenético é preciso ter uma paisagem que se possa observar de maneira aguçada e com grande alcance por outros ângulos que iniba o aceita e passe por olhares tão inovadores que nos faça repensar sobre a paisagem que nos é apresentada como o dito em "foi forçoso a ele, pra quem o movimento é tudo, abandonar, por convicções, motociclísticas e automobilísticas, a bike, penetrando, então, no tráfego aéreo verticalizado, para abusar, desde há muito, do tal helicóptero embebedado."(p. 152)
Nessa descrição somos apresentados a uma característica da obra helderiana que é o tratamento da linguagem de forma similar à estética cinematográfica ou até fotográfica com seus recortes, cortes, edições que se assemelham mais a montagem de um filme do que, propriamente dito, um poema até aquele instante. Para trabalhar com esse recorte tão frenético é preciso ter uma paisagem que se possa observar de maneira aguçada e com grande alcance por outros ângulos que iniba o aceita e passe por olhares tão inovadores que nos faça repensar sobre a paisagem que nos é apresentada como o dito em "foi forçoso a ele, pra quem o movimento é tudo, abandonar, por convicções, motociclísticas e automobilísticas, a bike, penetrando, então, no tráfego aéreo verticalizado, para abusar, desde há muito, do tal helicóptero embebedado."(p. 152)
Uma aspecto marcante da obra de Helder a utilização da língua em suas mais larga variedade uma igualdade sem uma distinção, na busca sem cessar do rompimento acaba por equivaler e só deixar ainda mais instigado seu leitor "A tradução(é preciso que se diga) também imprime ao significado a tal requerida velocidade. Imagine-se verter, quinze línguas diferentes, uma mesma coisa."(p. 154). E nessa busca constante se preocupa o poeta àquele que tratará de todos os males por meio de sua linguagem e, portanto, será um alquimista "Eis por que razão Herberto Helder também se iniciou nos aprazíveis sítios das ciências esotéricas(...)"(p. 154). Que apresenta a solução não somente física como moral transformando a sua linguagem em ouro "Trata-se, pois, de algo equiparável a uma interferência exercida sobre um processo vulgar para a obtenção do ouro, já que Helder atua sobre esse corpo no instante da formação de sua entidade, devolvendo, pois, uma nova existência tal objeto, agora transmutado." (p. 155)
Portanto é de interesse do autor a produção de confusões e possibilidades frente ao que nos é apresentado, pois se somos seduzidos pelo poder imagético da velocidade e proximidade do cinema com o nosso olhar e paisagem por outro devemos olhar com cadência para uma essência mais serena de um momento anterior onde tudo convergia para um entendimento somente como a alquimia. Essa relação que nos sugere "Helder promove, assim, o liame entre tecnologia de ponta, a mais alta(...) e a mais antiga ciência, as mais remotas origens apocalípticas, alojando dessa forma a sua obra entre o mítico e o utópico." (p. 156).
A sua obra serve como um bom vinho, degustada e apreciada a doses leves a balanceadas pelo seu rico tempero e sabor como deixa claro ao final Dal Farra "Eis aqui uma obra autônoma, maior de idade, veemente ao extremo, de modo que ela própria se diz."(p. 157). Se não há muito a se dizer, basta a apreciação deste grande poeta que fez da linguagem uma riqueza impressionante que mais lembra o último filme de Jean-Luc Godard Adeus a Linguagem(2014). Afinal o que seria feito de nós se a riqueza da poesia helderiana e sua linguagem sublime que nos falta preencher ainda mais a lacuna do signo?
A força da crítica em apagar o lado crítico e político de personalidades é algo que assusta e ao mesmo tempo compreensível. Natural que a autora, preocupada em validar aspectos estéticos, se distancie do processo histórico de composição do poeta. A parte estética ligada ao cinema e aos recortes de fragmentos tem muita proximidade com o que ocorria no cinema francês com a Novelle Vague de Godard, Truffaut e Chabrol entre outros teóricos e cineastas e isto se deve pelo processo econômico e social ocorrente na Europa. Sem dúvidas, isto levou a uma grande influência e discussão política que tomou conta do velho continente e adicionando a tudo isso o ascendimento do partido comunista com o seu viés stalinista.
Herberto Helder foi filiado ao Partido Comunista Português, mas nunca o foi panfletário e discursivo em defender o viés partidário. Com muitas informações do que ocorria na Cortina de Ferro, se afastou até se desfiliar. O salazarismo que também fichou-o em 1960 considerando-o "perigoso e com um interesse um tanto suspeito" limitaram a sua crítica. A desilusão com a ditadura salazarista e o stalinismo na URSS o fizeram desistir do engajamento pela arte como coloca Sartre.
Herberto Helder foi filiado ao Partido Comunista Português, mas nunca o foi panfletário e discursivo em defender o viés partidário. Com muitas informações do que ocorria na Cortina de Ferro, se afastou até se desfiliar. O salazarismo que também fichou-o em 1960 considerando-o "perigoso e com um interesse um tanto suspeito" limitaram a sua crítica. A desilusão com a ditadura salazarista e o stalinismo na URSS o fizeram desistir do engajamento pela arte como coloca Sartre.
O caminho escolhido por Helder em muito lembra o de outro poeta, tupiniquim e que nasceu na mesma época do poeta português e este poeta foi Ferreira Gullar. Após o desânimo com a realidade, o PCB e a sociedade em sua época, Gullar troca o engajamento marcado na década de 60 e 70 por um olhar para o universo como um distanciamento do mundo, um certo alheiamento que fez o autor buscar respostas e prazeres e, até próximo ao fim da sua vida, passa a escrever sobre sua vida íntima como por exemplo, o seu gato brinca no apartamento.
Fica claro que este processo só mostra os limites que um artista, sem uma prática e um engajamento revolucionário fazem quando esperam a luta por experiências ao redor do mundo e no seu tempo. Tais limites se mostram quando o(s) poeta(s) ficam reclusos e falando de coisas distantes e até enaltecendo uma estética que mais cabe aos desejos de uma crítica que reproduz e assimila a importância de uma obra que pouco acrescenta na constituição da consciência e luta de classes.
Cabe a crítica , portanto, lutar e apresentar como as relações sociais influenciam na obra dos autores, seus processos constituintes e como a possibilidade se apresenta com riqueza e pode ser usada como arma frente ao capitalismo. Se não apresentam tais soluções, a pobreza e a miséria intelectual passam a reinar de forma serena e pacata em conformidade com o capitalismo e o estado burguês. Como diria Eagleton em A Função da Crítica "A crítica surge com a burguesia e, para se libertar e tornar-se crítica, deve lutar contra o estado burguês".
Cabe a crítica , portanto, lutar e apresentar como as relações sociais influenciam na obra dos autores, seus processos constituintes e como a possibilidade se apresenta com riqueza e pode ser usada como arma frente ao capitalismo. Se não apresentam tais soluções, a pobreza e a miséria intelectual passam a reinar de forma serena e pacata em conformidade com o capitalismo e o estado burguês. Como diria Eagleton em A Função da Crítica "A crítica surge com a burguesia e, para se libertar e tornar-se crítica, deve lutar contra o estado burguês".
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