O Papel do Turismólogo e do Guia de Turismo

O título nos remete mais a uma pergunta do que, na verdade, uma resposta. Afinal, qual o papel do turismólogo na sociedade capitalista? Essa pergunta levanta questões muito interessantes levam alguns apontamentos: 

- Contexto Histórico
- Função
- Qual deve ser o seu papel?


Pretendo, portanto, responder a estas questões e propor uma reflexão no último tópico listado. 



Contexto Histórico


Muito se fala que o turismo remonta a algo tão antigo quanto o homem. Mas vamos colocar isso como algo profissional como uma fonte de renda na sociedade. Por voltar do século XVIII foi se estabelecendo na Europa viagens por alguns países. Essas viagens foram chamadas de Petit Tour e Grand Tour o que demonstra a expansão comercial de forma interna e para lazer. 
"o novelista britânico Thobias Smollet, o poeta alemão Johann W. von Goethe e o especialista inglês em antiguidades e teórico em estética Richard Payne Knight, todos eles tendo viajado até Roma declaradamente em busca de edificação pessoal e do estudo da cultura dos antigos."(Salgueiro, 2002)
Não havia uma necessidade mercantil, apenas de valoração e conhecimento de regiões em lugares para um desfrute cultural. Demonstra aqui, neste momento, os valores e ideais burgueses que iriam ser dominantes a partir do século XIX.

O país que mais dominava de forma intelectual e do capital no século XVIII era a Inglaterra e não foi estranho que lá surgisse o turismo como uma extensão profissional. Com Thomas Cook, a partir do Século XIX, o turismo passa a ser rentável e possuir um fim monetário. Todo esse contexto, por volta do meio do século XIX e em meio a ascensão da burguesia no aparato estatal e da radicalidade das lutas no interior do capitalismo. Por exemplo, em 1848 temos a primavera dos povos que foi uma onda revolucionária que escancara os problemas e os conflitos entre o proletário e burguês. Um dos meios encontrados pela burguesia foi dar condições para um pequeno lazer ao trabalhador, dando a ele uma sensação de bem estar e descanso. 

O turismo século XIX e até início do século XX era para uso do interno e uma forma de distração do capital para as crescentes revoltas e lutas dos trabalhadores contra o sistema. A sua modificação ocorre por volta da metade do século XX em que o boom econômico dos países mais avançados do capital dá condições de consumo para o trabalhador. A época de ouro do capitalismo vê o surgimento de indústrias que estimulam ao consumo dos bens produzidos e das sensações que o dinheiro pode dar. 

As viagens que eram ligadas as elites passam a ser "massivas" e a agregar cada vez mais pessoas em diferentes lugares. Portanto, o turismo não serve, nesse momento, para intenções críticas, mas para um prologamento da burocracia e do braço de domínio por parte da ideologia capitalista que necessita do consumo e da sensação de recompensa por meio da distração e da viagem papel das aeronaves e das agências de viagem em promover novos destinos.

Função


Nesse contexto massivo e novo da expansão capitalista nos países mais avançados do capital - que passavam neste período pelo estado de bem-estar social-, surge o turismólogo. A função do turismólogo ou do guia de turismo não é a de preocupação para a degradação provocada pela atividade turística no meio ambiente. Neste momento, a sua tentativa é um estudo de viabilidade e possibilidade de uma maior expansão de viagens para agências. 

No Brasil, se a função foi regulamentada recentemente, o curso de turismo existe bem antes lá em 1971. No ano seguinte surgiria em 1972 a CVC que se tornaria a maior operadora do país. Mas nada é por um acaso afinal, havia ali um interesse de vender passagens para trabalhadores já que a loja se situava no ABC paulista(local de grande força industrial à época). O Fundador da CVC, Guilherme Paulus,  detalha melhor em uma entrevista para a revista Exame em maior de 2012:
 "o então deputado estadual Carlos Vicente Cerchiari. Ele me procurou e contou que queria abrir uma agência de viagens (CVC são as iniciais do nome dele) na sua cidade, Santo André, e me convidou para trabalhar lá."
Entretanto é somente nos levantes mais profundos do ABC no fim dos anos 70 que Paulus começa a expandir o seu negócio. Como apresentado no site da CVC: 



"Dá-se início à organização de grupos de viagem, atendendo principalmente aos grêmios de funcionários das indústrias do ABC Paulista. A CVC iniciara suas operações na organização de viagens para 1 dia de passeio, depois para finais de semana, até contribuir para que o trabalhador programasse suas viagens em feriados prolongados e nas férias."

Logo, a função do turismólogo neste momento no Brasil é a de promoveras viagens do trabalhador. O controle no seu tempo, promovendo um lazer programado que permitia a distração a dois interesses no capitalismo, o alívio das tensões pelo estado ditatorial no período e a promoção do capital turístico que, com os trabalhadores, teria uma expansão enorme para a difusão de viagens pelo país. 

Contudo, o turismo percebe que os bens naturais não podem ser depredados necessitam, portanto, de sua preservação e aí entra a redefinição do papel do turismólogo e do guia de turismo nos interesses do capital. Suas funções agora passam a controlar e a programar o turista, dando a ele a importância da preservação do ambiente e da sustentabilidade necessária para se manter a natureza. 

A consciência ocorrida ao turista passa a ser aparente com um discurso complexo e ameaçador das ações do indivíduo no meio ambiente. A responsabilidade passa a ser individual e qualquer consequência do seu ato pode atrapalhar bilhões e bilhões de pessoas e afetar o planeta. Cabe ao turismólogo e o guia de turismo serem mediadores do conflito e fazerem o papel de condenar tais atos por meio do turista agradando assim, aos interesses do capital turístico que se expande a cada medida burocrática instalada.

Qual deve ser o seu papel?

O turismólogo e o guia de turismo surgem em um contexto propício para o capitalismo em uma determinada época. Se em alguns lugares mais avançados foi para expansão do capital e do consumo em outros se resumiu a extensão burocrática e a diminuição existentes de determinado contexto histórico. No Brasil, contexto trabalhado e percebido, a atuação do capital com o estado procuraram enfraquecer os levantes no ABC no final dos anos 70. O ato de programar viagens e prêmios aos trabalhadores foi um ponto decisivo para a função do turismólogo, planejar pacotes e viagens para consumo e distanciamento das questões que o afligem no trabalho. 

Entretanto, tais funções não auxiliam e nem promovem uma luta do turismólogo e do guia de turismo em um combate concreto contra as ações do capital. É fato que a cada discurso de sustentabilidade e responsabilidade individual, mais e mais as empresas procuram expandir e usufruir da atividade turística. Promovendo assim, um novo local a ser explorado e uma nova atividade a ser feita com o esgotamento da atividade anterior. A promoção individual não muda o dano coletivo e destruidor das empresas e do estado para planejar o turismo tendo em vista, a diminuição das tensões promovidas pelo capitalismo.

O papel de ambos deve ser diferente, se seu surgimento foi no capitalismo como braço da burocracia turística cabe a estes, uma luta contra o estado capitalista e a destruição por meio da exploração ambiental em grande escala. A promoção de consciência deve ser não para a sustentabilidade, mas a erradicação completa da culpa pelo indivíduo. Resta saber qual caminho escolherá o turismólogo pois, cabe dizer, que se escolhe a luta e a crítica poderá ainda ter uma chance de desenvolver a atividade para todos os outros habitantes do planeta porém, se escolher o outro lado, não possuirá nem função e nem bens naturais para poder agraciar o que seria o fim do turismólogo e do planeta também. 

Referências: 

http://exame.abril.com.br/pme/o-rei-do-turismo/

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882002000200003

http://www.cvc.com.br/institucional/nossa-historia.aspx

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