O Pico
Estava frio e teso em meio a paisagem, as nuvens se movimentavam com uma velocidade nunca vista. Era um dia de Sol, as águas refletiam o brilho daquela luz que batia no teu espelho. Um dia, alguém chegou e me colocou a mão e me cai rolando no chão. O toque não me era comum, a voz veio convidativa:
- Posso ficar aqui?
Uma mudez tomou conta, nada saía, nem ao menos o ar
- Você está em si? Tomarei meu lugar e não farei nada
Meu corpo se congelou num frio mesmo em meio a um ar árido, minha mão suava frio, queria cobertor e abrigo em meio aquilo. Até que o visitante tomou meu corpo para si
- Você nada faz, deseja existir?
Meu corpo foi jogado na terra, atingido por um soco foi em queda ao precipício, de lá jogou suas pedras para cobrir meu corpo. As piranhas no rio em que cai, farejando o sangue devoraram em pudor algum ou cerimônia, cada membro como um banquete.
Não sentia mais meu corpo, nem frio, ardência, calor, meu último membro se ia até que senti uma tosse funda e uma voz.
- Ele parece estar se entregando cada vez mais, mande um choque.
Uma corrente tomou meu corpo teso,uma tosse veio do fundo e revelou tudo que carregava como peso do meu mundo. Lá do alto pude avistar toda a miséria que me consumia e todo o vazio que me deixava fraco. O corpo logo se fez em queda, picadas fizeram percorrer minhas vinhas para injetar algo novo.
- Os olhos parecem vivos, podemos continuar com nossa experiência. A roupa branca faz entregar uma paz inexistente.
Meu corpo parece entregue as piranhas que devoram até a último sangue. Sem aparentarem fartas, saltam em mim e me elevam até o precipício que cai, de lá vejo o pico. E mais um delírio me ataca o corpo. Agora já não se faz mais o frio e sinto um calor que me invade, fui trocado por uma riqueza e um senso de novidade me transforma o homem que estava antes me pergunta:
- O que é preciso pra sentir frio sendo que há calor? O que é preciso para expulsar tanta dor?
Minha mudez se interrompe, faço gestos e indico a luz. Digo que é preciso sentir que há mudança e novidades mesmo na maior das dores.
Há amor quando lhe tocam?
Há amor quando lhe tocam?
Um transe me leva ao delírio, meu corpo entra num novo estado pronto para o novo salto que darei em meu precipício para retirar até o último suspiro enquanto as piranhas ainda me devoram
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