O pássaro Enjaulado
Hoje o pombo deu a sua tosse ao comer as migalhas, vendo a idade chegando, o corpo já não responde mais as cobranças excessivas as quais praticava. O pombo nasceu uma ave bem pequena, ele foi uma arara bem graciosa, mesmo que indesejada pelos seus pais.
Desde cedo, o agora pombo, teve de ser uma arara capaz de suportar a amarguras da vida, para isso se faz gavião e voou pela selva a caçar seu alimento e se manter forte. Diferente da andorinha, o gavião anda só e não faz verão, portanto, o seus dias foram de chuvas e tempestades em suas escolhas e levou a uma precoce mudança, a do pavão.
Pavão não voa buscando algo, fica de exibição e trancafiado, é belo e machucado, cortam-lhe as penas e enfeitiça. Pelos bares, drinques, danças, valsas, colos, choros, mágoas, ser pavão escondeu muito da sua dor e declínio em meio as penas de seu apogeu. Talvez outro pássaro, que tal um papagaio. Cansado de tantas mudanças fez esse para ser a última.
O papagaio vive numa bela gaiola de dois andares, com eira e beira, tem banheiro reservado, comida e bebida para uma vida inteira, mas papagaio não é feliz sem ser notado, pode viajar mas retorna cansado como se não tivesse ido. O ato de cortarem as asas virou hábito, cansado o papagaio foi para o centro de reabilitação e de terapia dos papagaios. Lá viu coisas terríveis, mas teve destaque e foi ouvido, talvez queria isso, falar não remedar, mas para ser ouvido e abraçado.
Voltou e se fez gaivota, o mar é uma tormenta e passou a colher o seu pescado com escolhas e problemas, quis abraçar a todos e até adotou filhotes de outras aves. Infelizmente, o fato de ser gavião em outro momento a fez uma gaivota solitária, mandona e caçadora. Agora cortava as asas, exigia o desejo pelo deus das gaivotas, impeliu mudanças, sentiu o frio da sua companheira arara até que esta foi combalida pela doença. Gaivota se fez uma arara diferente, já não sabendo ser arara. Cuidou ao seu modo, cumprindo dever e ordens como um gavião, magoada feito pavão, trancafiada feito papagaio.
Como a arara tem um par pra toda vida, viu a sua morrer no centro de saúda das araras. Na viuvez, a gaivota se fez pombo. Um pombo combalido e sofrido, pela bela gaiola de papagaio e que salta na primeira migalha que vê. Um dia saiu a praça, bebeu da água ofertada, dançou na estátua, nadou no chafariz, foi comer suas migalhas e agora agoniza em tremuras acometidas pela jaula enferrujada que fez ao longo da sua vida, sairá de lá arara de novo ou urubu?
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