Direito À Felicidade
Acordo
cedo, faz-se dia quando ainda a noite deixa silenciosamente entrar em suas
cortinas a luz do dia pelo peteleco da manhã. As indagações surgem e se
multiplicam, pois, afinal, quais os impedimentos da felicidade humana nessa
sociedade? A pergunta não pretende apontar as fragmentações ou especificações da
condição do indivíduo, pois isso seria desviar o foco do nosso potencial de
felicidade que, de fato, é o nosso almejar individual e social, mas deseja questionar
certos impedimentos atuais as colocações como um ser humano em frente à
sociedade. Trata-se, portanto, em reflexões e observações humanas e sensíveis e
que podem auxiliar a todos nós no que se entende ser humano na sociedade
capitalista. Esse ensaio não deve se alongar muito no propósito, mas suscitar
pontapés que serão válidos para diálogos ou discussões sejam eles em mesas de
bar ou no anseio do lar com amigos, parentes ou até confidentes.
A informação
demasiada
O conhecimento, ao longo da
história, estão longe de terem um entendimento ruim. Pelo contrário, o saber
sempre foi fonte de privilégio por parte de grandes filósofos e intelectuais,
foi formadora de ideias que nos permeiam até hoje por formações do estado, da
cultura e até da arte, logo, o conhecimento não pode ser inserido como algo
ruim, pois se o fosse, nós não iríamos sermos curiosos e buscarmos em fontes
anteriores para consulta. Com mais acesso ao conhecimento, naturalmente a informação
oferecida será maior e mais passível de questões, dúvidas, ações e
aprofundamento, pois o ser humano, pela sua curiosidade ou fascínio, se deixa
guiar e vagear pelas terras obscuras de sua ignorância e nela, ele aprende,
erra, ouve, compreende e anseio novos voos e formulações. Portanto, a
informação em maior quantidade deveria oferecer uma sociedade intelectualmente
mais intensa? Isso ocorreria se o saber que vivenciamos fosse um saber social e
dotado de capacidades inúmeras para os seres humanos. Longe do processo que
muitas vezes somos inseridos, a informação deveria ser utilizada para o nosso
bem e de outros, guiando-nos pela razão. Portanto, a informação deveria
estimular debates que seriam desde de entendimentos psíquicos recorrentes com o
nosso trabalho, passando pela qualidade de nossas vidas e o que nos impede de
socializarmos momentos até para a saúde que venha perecer ao final de nossas vidas
no lugar que chamamos e reconhecemos como nossa morada, no caso a Terra. Se esse
olhar está distante do prazer social, cabe a nós entendermos a ocorrência disso
na sociabilização que temos tido. Logo, se olharmos profundamente, a sociedade
capitalista e a fragmentação desse saber em pequenos saberes cada vez mais
complexos nos diz o oposto. A oposição se dá pelo fato de que um maior
conhecimento não tem levado a um maior conhecer de seus limites e ignorância e,
pelo contrário, atualmente temos nos tornados saberes de nossos próprios campos
ou formuladores individuais de importâncias singulares. A dificuldade na
conversa cotidiana ou no ponto de avanço e reconhecimento de nossos limites
esbarra no ego e em nossa preocupação rasa com formulações baratas ou irracionais.
A nossa saída nunca é questionar a infelicidade social, a fome, a miséria, a
falta de oportunidades, a pluralidade e vários fatores que nos são postos. A
nossa saída parece ser o contrário, afundados na nossa ilha e solitários, a
culpabilização intensa pela falta de produção, de aceitação e dúvidas de nossa
capacidade que gera ansiedades, medos, desejos de solidão e dificuldades de
reconhecer que somos infelizes. Mas existe a felicidade?
Relatório
Mundial da Felicidade e o Direito à Felicidade
Em abril de 2012, a Assembleia Geral
das Nações Unidas preparou um relatório sobre a felicidade nos países. Esse ranking
tem, pois, 1[1].
PIB PER CAPITA – relacionada a renda per capita, indicador econômico.
2. EXPECTATIVA DE VIDA- dados utilizados da Organização
Mundial da Saúde (OMS).
3. SUPORTE SOCIAL – sensação de suporte de familiares ou
amigos em momentos de necessidade e/ou lazer.
4. LIBERDADE PARA FAZER ESCOLHAS – sensação de que cada
pessoa possui liberdade de fazer o que bem entender.
5. GENEROSIDADE – sensação de generosidade e altruísmo das
pessoas.
6. PERCEPÇÃO DA CORRUPÇÃO – como os cidadãos percebem a
corrupção no governo, em entidades e nos negócios.
As seis variáveis indicam em qual grau está a felicidade de
um país, quanto mais alto o número, mais feliz é um país. Estranhamente, a
felicidade de certos países convive com a infelicidade de muitos outros países.
A felicidade segundo o relatório é diferente de país rico, mas os países mais
ricos são quem estão no topo enquanto os mais pobres bem, estes estão na parte
de baixo. Um relatório sobre a percepção da felicidade nos traz alguns pontos que
são de tristeza e de pouco alento. A existência da infelicidade é real e está
ligada as condições de miséria, medo e falta de condições ofertadas em certos
países. Os países mais infelizes são aqueles que sofrem intervenções e guerras
e convivem com a existência precária e frágil de suas certezas. Um belo exemplo
é constatar a felicidade alta em Israel e a grande infelicidade na Palestina
que é fruto do poderia, intervenção, segurança e protetorado de um sobre a
fraqueza, angústia e solidão do outro. A constatação da existência de
felicidade nos países nórdicos não é novidade, porém a existência dessa
felicidade passa muito pela exploração demasiada de minérios e fontes energéticas
ao redor do mundo como no caso de acidentes na mineração ocorridos no Brasil e
que tinham grande aporte de empresas norueguesas. Outro ponto foi a percepção
de quem existem mais países infelizes do que felizes, pois a felicidade no
capitalismo produz isso, a competição pela felicidade de alguns frente a
infelicidade de muitos. Para a existência de uma ilha de riqueza, um arquipélago
de pobreza e miséria precisa surgir para a sua manutenção. O mito de oportunidades,
realizações e condições para todos é uma falácia que leva a terríveis reações tanto
físicas como psíquicas. O adoecimento generalizado provocado pelo capitalismo e
suas felicidades provisórias por meio do anseio individual não retratam o ideal
almejado pela felicidade social, a sociabilização do consumo que ofertamos.
O direito à felicidade deveria ser ofertado a níveis universais e gozado por todos, sem a pretensão de obrigação e falácias. Diferentes de ratos criados em laboratórios com o intuito de testes sádicos para comprovação de experimentos, os seres humanos não são experimentos, nem ratos e nem tampouco sádicos. Se o são, o estímulo vem de uma sociabilização tortuosa e vertical, fruto de processos introjetados que nos colocam a felicidade ao nosso alcance bastando batalhar para ter acesso à realização pessoal. A parte ocultada é que muitos nunca atingirão esse direito e poucos já nascem com as condições prontas em somente prosseguir e aprofundar essa relação, tento de ser criados para serem passionais na distância, mas duros na proximidade de sua manada. A benevolência e caridade, os jantares sociais entre outros, fazem parte de uma querela de ações que não apresentam felicidade, mas, apenas, um afago de migalhas. Isso revela um ponto atraente e doloroso, a burguesia não está disposta a abrir mão de sua felicidade e exploração.
A essa luta e empenho,
cabe a quem produz a felicidade de uma classe neste caso, o proletariado. O
direito à felicidade só caberá quando essa classe ditar a liberdade e socializar
a felicidade e incluí-la como um inefável ao desejo humano. Somente em outra sociedade
em que o estímulo não provocar obrigações, medos, anseios, culpas e um relatório
sobre a felicidade dos países e que teremos atingido uma felicidade. Uma sociedade
em que beber champanhe, vinho e comer queijo Brie serão direitos e deveres em
seu gozo ao fim do trabalho social ofertado de poucas horas que proverá o
sustento de todos nós. O direito à felicidade deve ser a nossa luta pelo acesso
ao lazer, ao ócio, a sesta ao fim do pôr-do-sol como o encontro apaixonado. A
felicidade deve ser encarada como o direito ao amor, um direito que quando nos
é ofertado em poucos momentos que temos nessa sociedade, nos transforma. Logo,
a luta deve ser pela transformação de momentos poucos em muitos, do riso no
lugar do choro, de poucos para todos e do fim da exploração para o início da
realização e que isso não venha ser um impedimento, anseio ou desejo, mas um
direito à felicidade.
Comentários
Postar um comentário