Hillux ou Barro: A mensagem em meninos da pecuária
Muitas músicas foram lançadas no governo Bolsonaro em alusão e propaganda ao agronegócio, mas nada é tão sintomático como o videoclipe da dupla Léo e Raphael chamado os meninos da pecuária. Sucesso em rádios e na plataforma de vídeo youtube, a música conta com o sucesso do agronegócio e sua importância para o país, aliado a isso, há uma ode ao consumo e a equiparação aos prazeres mercadológicos reinantes nesta sociedade. O prazer estimulado pela realização em meio ao agro é adornado com mensagens mostrando a força deste segmento e como ele deve ser relevante e olhado com carinho. Tendo um volume de vendas de 1 trilhão de reais e o maior rebanho bovino do mundo, o Brasil deve ao agro a força e o volume elaborados pelos meninos da pecuária em seu clipe. Além disso, a execução intensa da música em rádios apresenta um ponto que está mais para o realismo fantasioso do que o socialismo real, pode uma música ser executada e uma dupla ser lembrada sem ter tantos ouvintes assim?
Isto demonstra que o agro possui um projeto ideológico e com uma cadeia extensiva perpetra seus valores sem ao menos ser questionado ou criticado. Àqueles que furam a bolha deste mercado ou são sucessos emergentes de conjunturas específicas ou artistas pop com alguma consolidação vindos de ritmos que dialogam com a juventude.
O clipe apresenta os paradoxos que convivem o homem do campo desde a roupa de algumas pessoas no clipe que representam certa aproximação de quem é do agro com o consumo algo como “Eu não tenho carro importado / Mas a Hilux é do ano toda suja de barro” “Calculo o valor que tá o gado / Quantas Ferrari tem aqui nesse pasto” que percorre o consumo paradoxal entre o campo e a cidade, criando uma associação fácil a quem ouve referente ao valor da arroba do boi. No videoclipe, a letra a adornada pelas informações do volume financeiro que o agro gera além de reiterar com letra animada no canto a relação entre valor do gado e a Ferrari junto de um quadradinho que comemora o valor recorde da arroba do boi. Dentro deste há o processo cultural que associa o uso de chápeu de palha a algo que permanece. Como se todo o dinheiro adquirido não tirasse a simplicidade e sua identificação com o campo já que este lhe dá a condição material e o sustento. Contudo, ainda não é desnudado a mensagem por de trás do clipe e da música. Aliás, alguns artigos e escritos ora enaltecem a força do agro e a grande maioria critica como propaganda ideológica¹². Mas se isto o é, esquece que mensagem é algo além da mera aparência. A essência é outra bem diferente.
A mensagem por de trás quer reforçar um discurso e mostrar o poder uma fração da burguesia que almejava (naquele momento) sedimentar o apoio ao projeto bolsonarista e reforçar os seus valores com a identidade do Brasil longe do litoral. Sem contar que a associação de riqueza, lucro e poder do agro oculta os vários problemas oriundos do trabalho escravo, desmatamento, exploração da terra, utilização de animais de forma insensível e as muitas contradições por meio da política, violência e imposição. A música deixou de colocar em seus balões o quanto o agro desmata a Amazônia para a sua expansão da soja, a exportação que em nada beneficia o consumo interno ou mesmo jogar fora seus produtos, pois assim, eles ficam mais caros e geram lucros maiores.
A mensagem feita pelo videoclipe oculta a real face do agro, um setor econômico dentro da fração burguesa que pretende disputar o poder e impor a sua vontade econômica e que beneficia o capital externo e o lucro exorbitante. Nisto, o agro não sustenta o Brasil! O agro sustenta a burguesia agrícola que explora e utiliza de uma quantidade enorme de terras e que encontro em veiculações distintas se afastar do discurso da reforma agrária ou mesmo das lutas no campo. Não vemos menção alguma à agricultura familiar ou mesmo ao MST no videoclipe, pois estes em nada apresentam consumo e são o paradoxo dentro do campo. Aceitam os valores burgueses e o reproduzem, mas se aliam ao lado progressista, pois sabem que com estes possuem podem possuir maiores ganhos. Se o projeto conservador tem coesão sobre o que é o agro e como pretende disputar, a luta do lado progressista é apaziguar e buscar por meio da superestrutura valer dos seus interesses que em nada solucionam o problema. O reformismo toca a tônica de ambos os lados, ora reformando para agradar a maior conservação, ora reformando para agradar um pequeno progressismo. Nisto, a proposta revolucionária fica de escanteio. Pois, afinal, qual a proposta revolucionária?
Longe de ser a proposta que resolverá tudo, o diálogo revolucionário deveria se valer da questão: Há pessoas inconformados com a diretriz do campo? Elas se atirculam? Os trabalhadores do campo tem interesse de ir além do que lhe é proposto? É possível o debate para superar as contradições? Se as respostas forem sim a todas, há uma revolta reprimida que só precisa comunicar sobre e marcar o início. Se a resposta for não seja a todos ou alguma delas, demonstra que o interesse existe, mas a formação ainda não consegue trazer respostas suficientes ao problema. O avanço de consciência para isto seria a demonstração de outras possibilidades sem cair na luta por leis, mas ações evidentes. Um histórico de lutas e táticas deve ser resgatado para auxiliar numa direção acerca do problema e por fim, debates devem buscar uma horizontalidade do processo sem cair nos mesmos erros do passado promovidos por partidos e organizações verticais. Nisto o PIB que começa com P de pecuária passaria a começar com P de projeto. Um projeto de tamanho empenho passaria a radicalizar a medida que a rememoração e a possibilidade surgissem no horizonte revolucionária. Nisto, o discurso capitalista deve ser retirado de seu véu e apresentado como ideológico, em suma, uma realidade que tem uma pequena verdade. A pequena verdade é a produção de riqueza, a grande mentira é que esta riqueza fica em poucos e na exploração de muitos. Sem esta discussão e honestidade, a mensagem fica somente na crítica ou no alicerce do externo, sendo que a demanda do campo é necessária e em nada tem a ver com Bolsonaro ou Lula (e seu bilionário plano safra). Somente quando os trabalhadores do campo se olharem menos como produtores e sim como realizadores da transformação no campo, poderemos seguir num avanço. Até lá, a noite é escura, o mato é seco e os meninos da pecuária que em nada para, apenas mantém o chápeu de palha e o consumo exploratório à base de grilhagem ou navalha.
¹https://volumemorto.com.br/agronejo-propaganda-agronegocio/
²https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-agro-nao-poupa-ninguem/
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