Visões e dilemas em You: Quem esquecemos?
A quarta temporada da série You (Netflix) chegou ao fim para os amantes de stalkers e assassinos compulsivos. Diferente de outras temporadas em que o sadismo e a violência dão lugar à paz de espírito e as ações do indivíduo, neste temporada vemos a crise da existência e essência do personagem principal. A série apresenta um indivíduo amargurado, crítico e ausente da sua necessidade de matar compulsivamente. Ao contrário, este deseja que as ondas de morte e destruição cessem para que tenha alguma tranquilidade, aqui entre nós, a falsa sensação de controle que o indivíduo tenta referente a situações que o exponham ou gerem caos.
A grande sacada da série se mostra no último episódio em que somos jogados a uma espécie de várias ações e reviravoltas. Aqui, a tentativa é de utilizar Clube da Luta (1999) de David Fincher como mote das ações entre a personagem principal e o seu ou eu, compulsivo e assassino. Neste tentativa narrativa, a série apresenta, na verdade, um outros filmes que apresentam e representam os valores desta sociedade. Em Eles, Vivem(1988) de John Carpenter percebemos o tom de críticas ao apresentar a quantificação das pessoas e a capacidade de tratar àqueles que servem como peões de seus jogos ora sendo descartados, ora sendo cruciais e/ou descortinando a realidade que se passa na mente de pessoas que o único objetivo é o lucro.
Mais que o filme de 1999, a série apresenta mais a ideia do filme de 1988. As ideias, o poder, o que pensam e como movem é descortinado e podemos, com o óculos da ficção, perceber que a ganância e o dinheiro podem tudo frente a um mundo em que pessoas são quantificáveis. A medida que passa por ser um professor universitário sem pretensão alguma, Joe descobre um mundo em que as suas ações e intenções tem validade desde que tenha a companhia certa e possa realizar os passos certos. Mesmo as mortes podem ser encobertas com várias ações contrárias ao evento ocorrido, como uma modificação narrativa e a venda de uma história de superação (aqui vemos tanto com a sua personagem, como o casal que encara - e consegue escapar - da jaula de vidro).
Mesmo com tamanha crueza sobre as intenções da burguesia e as suas ações frente a um mundo em que tudo podem, a série parece esquecer de um elemento: a classe trabalhadora. Em O assassinato em Gosford Park (2001) de Robert Altman há duas narrativas. Àquelas contadas pelas burguesia com os seus dilemas, ações, desejos e interesses e aquelas que são contadas pela classe trabalhadora que além de repassar e vivenciar as visões burguesas, produzem e apresentam a consciência de seus dilemas ora aceitando, ora criticando e até participando das ações decorrentes. Diferente do filme de Altman, as personagens burguesas produzem, reproduzem e dão a dinâmica das ações, pois coisificam as relações sociais e conseguem controlar a classe que produz a riqueza. Não vemos rebeldia dos trabalhadores (talvez, timidamente, quando abandonam Adam, pois este se encontra em falência). A única ação de vingança dos trabalhadores é a humilhação e o escárnio na mesmo personagem citada, por meio de sadismo e fetiche (algo que deve ser pago pelo mesmo). Não vemos greves ou mesmo uma ação violenta e desejosa dos trabalhadores para com estas mortes.
A grande sacada da série se mostra no último episódio em que somos jogados a uma espécie de várias ações e reviravoltas. Aqui, a tentativa é de utilizar Clube da Luta (1999) de David Fincher como mote das ações entre a personagem principal e o seu ou eu, compulsivo e assassino. Neste tentativa narrativa, a série apresenta, na verdade, um outros filmes que apresentam e representam os valores desta sociedade. Em Eles, Vivem(1988) de John Carpenter percebemos o tom de críticas ao apresentar a quantificação das pessoas e a capacidade de tratar àqueles que servem como peões de seus jogos ora sendo descartados, ora sendo cruciais e/ou descortinando a realidade que se passa na mente de pessoas que o único objetivo é o lucro.
Mais que o filme de 1999, a série apresenta mais a ideia do filme de 1988. As ideias, o poder, o que pensam e como movem é descortinado e podemos, com o óculos da ficção, perceber que a ganância e o dinheiro podem tudo frente a um mundo em que pessoas são quantificáveis. A medida que passa por ser um professor universitário sem pretensão alguma, Joe descobre um mundo em que as suas ações e intenções tem validade desde que tenha a companhia certa e possa realizar os passos certos. Mesmo as mortes podem ser encobertas com várias ações contrárias ao evento ocorrido, como uma modificação narrativa e a venda de uma história de superação (aqui vemos tanto com a sua personagem, como o casal que encara - e consegue escapar - da jaula de vidro).
Mesmo com tamanha crueza sobre as intenções da burguesia e as suas ações frente a um mundo em que tudo podem, a série parece esquecer de um elemento: a classe trabalhadora. Em O assassinato em Gosford Park (2001) de Robert Altman há duas narrativas. Àquelas contadas pelas burguesia com os seus dilemas, ações, desejos e interesses e aquelas que são contadas pela classe trabalhadora que além de repassar e vivenciar as visões burguesas, produzem e apresentam a consciência de seus dilemas ora aceitando, ora criticando e até participando das ações decorrentes. Diferente do filme de Altman, as personagens burguesas produzem, reproduzem e dão a dinâmica das ações, pois coisificam as relações sociais e conseguem controlar a classe que produz a riqueza. Não vemos rebeldia dos trabalhadores (talvez, timidamente, quando abandonam Adam, pois este se encontra em falência). A única ação de vingança dos trabalhadores é a humilhação e o escárnio na mesmo personagem citada, por meio de sadismo e fetiche (algo que deve ser pago pelo mesmo). Não vemos greves ou mesmo uma ação violenta e desejosa dos trabalhadores para com estas mortes.
A inércia do trabalhador, a sua conformidade é evidente em uma época que as lutas se encontram frágeis ou mesmo inexistentes em grande parte dos países desenvolvidos. Anos de neoliberalismo desencadearam em ações que despertam a ira, raiva, a força, mas pouco da tática, rebeldia e prática constante. Nisto a obra peca ao evidenciar que, na verdade, as ações são permeadas pelo indivíduo como uma característica intrínseca ou mesmo uma marca da ação humana ou, como se estivesse em nossos genes tal ação.
Importante frisar que o regime neoliberal é uma das formas do regime de acumulação capitalista, este foi concebido para dar lugar a outro regime e criou, com isto, uma sociabilidade diferente e nova como a visão perpassada pelo indivíduo e a sua ações e culpas. You demonstra que não consegue superar este dilema, pois a personagem aceita e vive a aparência social junto de sua essência real. O não rompimento e a aceitação apequenam a empreitada da obra que, diferente do filmes citados, não consegue conceber uma outra sociedade.
Incrível análise amor! 👏🏽👏🏽👏🏽
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