A Educação como princípio e fim

Quando vemos o que é educação, deveríamos pensar em como se dá a educação. Com a amplitude de conceitos e a abstração que se dá por meio do pós-estruturalismo, a educação pode se tornar até a maneira como cuida do cachorro ou mesmo de como ajustar o seu corpo para o trabalho. Afinal, o que se conhece como educação pode ser tudo, mas, ao ser inserido nesta lógica, ele apresenta-se vazio, sem sentido ou mesmo deslocado da realidade material a qual surgiu. 

Emergida com o Estado burguês, a educação surge com o intuito disciplinador para o proletariado e com o intuito de perpetuar a dominação por parte da burguesia. Assim, surgem os educadores que passam a ser tutelados pelo Estado, produzir um material intelectual que procura explicar a lógica e a história do conhecimento pelo viés burguês. Em troca desta condição, a categoria professor passa a exigir benesses para prosseguir neste intento, pois atua como uma classe que produz não a mercadoria, mas o saber, a episteme ou Verkaufswissen que expressa perfeitamente o intento como a venda do saber. Nesta venda do saber que ocorre a aceitação, a tensão e a contestação e a difusão de ideias que passam por interesses e desejos por parte dos profissionais da educação.

Atuando como uma classe que percebe e conhece a luta de classes e a sociabilidade capitalista, a educação cria maneiras de prosseguir atraente aos serviços burgueses. A manutenção da produção aos profissionais, a coisificação da atividade docente, a inserção disciplinar aos alunos e pares, a concorrência por vagas em concursos, empregos com baixa remuneração, a modificação nas dinâmicas de trabalho - como a inserção de tutores - etc demonstram a lógica a que se submete o capitalismo, traduzindo, a procura em exprimir ao máximo a força de trabalho e realizar uma extração de mais-valor absoluto. 

Como um profissional e suas diferentes visões e desejos, o professor acaba por ter interesses diversos. Desde a conservação e aceitação de sua autoridade ou a contestação do seu papel. Neste segundo, o professor pode escolher o caminho progressista ou revolucionário e iremos discorrer ambos os lados. 

Ao papel progressista, o professor pode inserir em sindicatos da categoria, alçar seus cargos burocráticos, realizar greves e buscar um lado menos danoso, em suma, uma conciliação de classes por interesses divergentes. A discussão é mais avançada, divergente e apresentam alguns valores que são a demonstração da contradição resultante da conciliação, a importância do trabalho frente a falta de valorização deste, a importância de melhores salários com a justificativa de um desgoverno anterior, a importância do saber com a leitura de que muito do saber foi utilizado para justificar inúmeras contradições aos seres humanos - que diria a eugenia, como exemplo - e por fim, a manutenção deste ciclo como se fosse durar para sempre. 

Ao papel revolucionário, o professor negará qualquer surgimento vindo da superestrutura e que carrega no seio a visão burguesa, enxergará a todos como pares e se associará em prol do fim da educação burguesa. As discussões serão restritas, mas passará a contar com um intuito finalizador desta sociedade. A mesma sociedade que produz as contradições existentes, daria lugar a uma sociedade em que as ações e a teoria andariam em comum acordo com os desejos humanos. 

Aqui, se apresenta o dilema, pois, afinal, o que fazer? Ser revolucionário? Ser progressista? Para o atual momento, a luta deve se concentrar e atuar na esfera da possibilidade. A possibilidade de melhores salários, a possibilidade de melhores concursos e as condições existentes permitem, ao professor, uma negociação com margem em frente ao Estado. Em suma, é possível com uma organização da categoria a melhoria de sua condição. 

Porém, a luta deveria ser para o fim da educação burguesa e como esta se dá e promove as suas ideias nesta sociedade. O professor deveria lutar para que não seja um especialista e sim, que seu saber seja realmente partilhado com o máximo de pessoas ao maior tempo possível e disponível. O fim da profissão é a libertação necessária para que o real saber seja apreciado e dimensionado na união entre prática e teoria. Com mais tempo, a dedicação seria múltipla e possível sem que seja necessário trocar as horas, tão caras e únicas a cada indivíduo, por um salário que compra minutos  de um lazer ou sossego. Só com o fim do capitalismo que o verdadeiro papel da educação se mostrará desnuda e evidente, uma educação libertadora.







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