A Parada

Avistei em um semáforo
corpo esquálido 
encardido
Desgostoso e desgastado

Em seu alto

uma luz tímida e fraca a fazia divina
no fundo dos seus olhos a esperança já se foi

Sobrava o corpo

pedaço de carne à mostra
exposta
as traças da vida urbana cotidiana


Sua mão estendida parecia tatear o ar em busca de comida
jogada a sorte ou a empatia do dia-a-dia
sua boca seca mal expunha saliva para balbuciar

Palavras cortavam o ar
no negrume que se fazia
na noite maltrapida

Seu rosto familiar me assustava
Ó meu deus, o que havia de fazer para acalma-lá?
Dar-te comida em mãos ou oferecer a esmola pro pão?


Perdido em confusões e delírios
da embriaguez ou do vazio
meus sentimentos foram roubados
e então fui pescado, levado

O salto em mim deixou um hiato
em meio a um poço fundo
e um tanto escasso

Meus recursos desparecem
e nele a pele me entorpece

O espelho me condena o amargor dos anos
velho cansado mal acabado
na luta diária pelo capital

Que sina a minha neste sinaleiro
parada que em tudo se faz final

Terei como me refletir no espelho sem me preocupar?
Ei de me condenar pelo reflexo que vejo?

A pálida luz que se fazia acabou
foi a conta ou a divindade?

Não importa...

Buscarei em mais um semáforo
o fim do meu embaraço

A embriaguez não me trará a solução
nem a lucidez a razão
Meu final será como meu começo
em busca do oásis no deserto
áquilo que mereço

















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