A Estética da Recepção em Max e os Felinos


Resumo: Este artigo pretende estabelecer a conexão entre a Estética da Recepção de Hans Robert Jauss e o livro Max e os Felinos do escritor Moacyr Scliar. O poder do efeito da obra no leitor e a sua crítica frente ao contexto da sua época, no caso a ditadura militar, serão analisados neste artigo. 

Hans Robert Jauss foi um teórico importante para a literatura ocidental no século 20. Apresentando novas técnicas para a apuração e crítica a obra literária buscava romper e criar uma novidade para o que enxergava como uma bipolaridade de correntes literárias entre marxistas e formalistas. 

“A qualidade e a categoria de uma obra literária não resultam nem das condições históricas ou biográficas de seu nascimento, nem tão-somente de seu posicionamento no contexto sucessório no desenvolvimento de um gênero, mas sim dos critérios da recepção, do efeito produzido pela obra e de sua fama junto á posteridade.” (JAUSS apud Costa, 1994, p.8). 

A partir de uma nova perspectiva Jauss analisa o dialogo que a obra relaciona e discute com o leitor e o seu efeito, essa percepção é realizada por sete teses que pretendem compreender a diacronia e sincronia presentes na obra literária apresentando pontos em comum com ambas. 

“A experiência estética, segundo Jauss (1979), torna-se emancipadora na medida em que abarca três atividades primordiais, que, embora distintas, relacionam-se entre si: a poesis, a aisthesis e a katharsis. A poesis compreende o prazer do leitor ao sentir-se co-autor da obra literária; a aisthesis, o prazer estético advindo de uma nova percepção da realidade, proporcionada pelo conhecimento adquirido por meio da criação literária e a katharsis, o prazer proveniente da recepção e que ocasiona, tanto a liberação, quanto a transformação das convicções do leitor, mobilizando-o para novas maneiras de pensar e agir sobre o mundo.” (COSTA, 2011, p.6) 

As percepções por esses três fatores fazem da estética da recepção uma ferramenta muito eficaz para a análise da obra literária, com efeito, realizando novas sensações e questionando a transformação e o gosto do leitor por tais obras e a reflexão da identificação com os personagens e as suas ações que podem vir a influenciar o leitor. 



Max e os Felinos e a Estética da Recepção 

Moacyr Scliar escreveu Max e os Felinos em 1980 ao utilizar uma história fantasiosa entre o protagonista e um tigre. Como dito pelo mesmo em entrevista, “Max e os Felinos buscava uma maneira de falar frente ao horror de se calar e possuir medo frente à repressão que se instalou no país”. A história começa na Alemanha quando Max se vê obrigado a sair do país frente à ameaça nazista e embarca em um navio que levava animais em seu porão, ao decorrer da viagem a embarcação sofre um naufrágio e então o personagem consegue se salvar em um bote onde é confrontado com o tigre que provoca todo seu sentido de medo e prisão. 

“A experiência literária não deve ser pensada apenas por meio do aspecto diacrônico, não se devendo confrontar somente os horizontes de expectativas de um mesmo texto através do tempo, mas verificar as relações que se estabelecem entre os horizontes de expectativas de diferentes obras simultâneas.” (AGUIAR apud Costa, 1996, p. 29) 

Esse medo percorre toda a obra sendo condutor da narrativa junto aos personagens, quando chega ao Brasil sente-se perseguido até que assassina o seu vizinho que pensava ter ligação com o nazismo. Tais fatos ocorrem e se fundem ao imaginário vivido pelo leitor em sua época, retratando de um caso que chocou o mundo e provocaram evacuações de pessoas fora do seu país, Scliar relembra do leitor da ditadura, seus males e o exílio. O totalitarismo marcado na época passa pela memória e a identidade do leitor com o momento que estava chegando ao fim, algo melancólico e trágico, como o livro e os personagens de Max e os Felinos. 

“A contribuição da literatura na vida social se dá justamente quando, por meio da representação, ela promove a queda de tabus da moral dominante e oferece ao leitor possíveis soluções para os problemas de sua vida.” (COSTA, 2011, p.6) 



Considerações Finais 

Max e os Felinos é um livro que permite adentrar de forma metafórica a um período conturbado da história brasileira. Scliar de forma sútil e perspicaz retira a máscara da repressão e do medo e impacta o seu leitor de forma a esse rememorar e se ambientar na recente época de um passado que não deve voltar tão cedo ao cotidiano e imaginário da sociedade brasileira. O diálogo estabelecido com o leitor, através de Max e a figura do tigre que logo intimida a todos pelo instinto cruel, faz com que o leitor exponha seus medos e o confronte frente ao inimigo maior que é o silêncio. 



Referências Bibliográficas 

SCLIAR, Moacyr. Max e os Felinos. 2012. LP&M Editores. Primeira Edicão. 

COSTA,Márcia Hávila Mocci da Silva.ESTÉTICA DA RECEPÇÃO E TEORIA DO EFEITO, 2011. 

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